terça-feira, 30 de junho de 2009

O velho «cavalo» de Tróia





De regresso de Vila Nova de Milfontes pelo Cercal, passámos por Grândola, a caminho de Tróia, onde chegámos às 19 horas, para uma visita ao Tróia Resort, que pode ser visto aqui, e o trabalho do sociólogo do ISCTE José Gomes Ferreira, «Usos humanos da natureza: O exemplo da Península de Tróia», aqui. Ao contrário dos meus acompanhantes, confesso-vos que, com a aproximação do «resort», a desilusão tomou conta de mim. De nada valiam os meus argumentos para arrefecer o entusiasmo e aplauso dos meus companheiros perante as repetidas «dunas» artificiais, estranhas à antiga paisagem local, construídas nas rotundas e ao longo da estrada. Mais à frente, à esquerda, largas dezenas de apartamentos em edifícios de paredes de vidro, à venda por preços milionários, foram motivo de espanto perante tamanha transparência. O volume edificado em cimento e vidro das construções novas claramente ultrapassa o razoável, comparado com o tempo da Torralta. A mudança para longe do «resort» da estação dos «ferrys» para afastar o maralhal que atravessa o Sado, o aumento brutal dos preços para a travessia do rio, ver aqui, a falta de pessoas nas ruas que não fossem visitantes ocasionais como nós ou seguranças, a sumptuosa marina com luxuosos iates e veleiros no lugar onde dantes acostavam os barcos de passageiros, são sinais evidentes do que se esconde por detrás de projectos turísticos, em princípio justificáveis de progresso e desenvolvimento, ou de PINs – Planos de Interesse Nacional – que são verdadeiros «cavalos» de Tróia para o sector imobiliário se alargar e tomar de assalto o património natural e as zonas protegidas, sejam onde for, na Península de Setúbal, na Costa Vicentina, no Algarve, ou na longa costa a norte da foz do Tejo. Neste caso troiano, é de realçar a conivência das câmaras de esquerda de Setúbal e de Grândola que nada fizeram de concreto para contrariar os brutais aumentos dos preços da travessia do rio e o apetite voraz da especulação imobiliária da Sonae e da Amorim Investimentos que acabará por tomar conta da Península de Tróia.
Longe, bastante longe, vão os tempos em que, às centenas, banhistas, como nós, saíam dos barcos e logo ali atravessavam o areal para se espalharem ao longo da praia do Carvalhal, na costa marítima. Desse tempo é a foto que está em cima, tirada ao Luís Miguel, pelo nosso amigo João Manuel Andrade, num domingo, há trinta e seis anos, em que fomos até lá nos carros do Dírio e do Mário.
Aos interessados pelo património natural que é de todos nós e pelo ordenamento do território do País que não tiveram tempo ou vontade política para ler o longo dossiê do investigador José Gomes Ferreira, peço encarecidamente que voltem a ele. E mais: não deixem de acompanhar estes projectos que vão alterar a paisagem do território português durante os próximos anos.
Até um dia destes, na Madeira.

1 comentário:

  1. Caro amigo Luís,
    Quando entrei no Blogue, comecei por ver as fotografias e, antes de ler o texto, disse à Fernanda: "-Este bébé parece-me ser o Luís Miguel!" ao que ela retorquiu:"-Não, é o neto do Luís!". Fiquei-me por aí. Qual não foi o meu espanto quando, lendo o texto, vejo que referes que a foto foi tirada por mim, há 36 anos. Lembro-me bem das nossas travessias do Sado, para ir nadar à praia de Tróia, mas da foto não me recordava. Mas, é com imenso prazer que a vejo, e que penso em quão longa é a nossa amizade!
    Acho óptima a ideia da criação do "Já-vai-ali". Vais pondo os neurónios a trabalhar ao máximo - coisa que sempre fizeste - para alimentar o"bicho" e manter a tua intervenção cívica e social, através da avaliação crítica do que se passa no nosso mundo de hoje, como se deseja de um "Sénior" consciente.
    Com a assiduidade possível, serei um visitante do Blogue.
    Um abraço e até já, na Madeira.
    08.07.2009
    João Manuel.

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