sábado, 1 de agosto de 2009

Com o Zé Eduardo, na Levada do Cavalo

O Zé Eduardo foi o companheiro de escola e de profissão que, certo dia, há quarenta e um anos, estando nós a trabalhar no «Jornal da Madeira», me desafiou, segredando, a vir com ele trabalhar no jornal «O Século», que na altura precisava de compositores mecânicos. Olhei para ele, incrédulo… Oito dias depois, deixando o coração e a Rosinha na Madeira, desembarcava do paquete «Funchal» em Lisboa. Corria o mês de Junho de 1968.
Trabalhámos juntos no «Século», «Diário da Manhã» e na «Capital». Juntos também participámos, nas lutas sindicais contra as direcções dos sindicatos fascistas, no Sindicato dos Gráficos, e em reuniões clandestinas que já se faziam em 1969 e que foram embrião da CGTP, e militámos na Base FUT, organização anarco sindicalista dirigida por sindicalistas e militantes ligados à Igreja Católica, onde o Padre Jardim era uma das figuras tutelares. Nunca virou a cara a uma boa discussão política, como eu. Eram renhidas e intermináveis as discussões que se faziam sobre a guerra colonial e outras políticas com os amigos estudantes, como o Dírio, e tropas, como o Zé Gregório, que passavam o fim-de-semana cá em casa com as namoradas, a Gorete e a Mercês. Depois do 25 de Abril, com a Revolução e a oferta política, cada um foi para o seu lado. Eu para a política partidária maoísta, ele continuou anarca como sempre.
Hoje, também reformado, vive na Madeira com a sua Luísa, rodeado de animais, árvores de fruto e constantes projectos, na propriedade de 3000 metros quadrados que herdaram da família dela, na Levada do Cavalo. Um dia destes telefonou-me, pensando que eu estaria em Almada, para lhe arranjar informação da internet sobre a cultura do melão e da melancia. Há um ano, foi sobre as curgetes, mas, parece, não teve êxito a experiência. Agora, com o melão e a melancia, diz que vai ter de meter cal na terra, porque estas culturas precisam de terrenos calcários. É um sonhador este Eduardo… Deixou de fumar e de beber álcool há pouco. Só cerveja sem álcool. Aguenta-te Eduardo… Força. Mais um abraço!


Apostila – Recebi hoje, dia 28 de Outubro, a triste e inesperada notícia do falecimento do Zé Eduardo, vítima de um fulminante tumor. Se, em Julho, já estava doente, não deveria saber a gravidade do mal que tinha, porque os planos eram muitos, e a Luísa nada nos disse num telefonema que fizemos pouco depois. Faleceu um lutador, um idealista. Honra à sua memória! À Luísa e aos filhos, sentidos pêsames! Até um dia, Eduardo!

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